quinta-feira, 28 de abril de 2011

A ÉTICA DA CRENÇA

Um armador estava prestes a enviar para o mar o seu navio com emigrantes. Ele sabia que o navio era velho e que não tinha uma boa construção; que já tinha visto muitos mares e climas, e que precisava de reparações constantes. Foi-lhe sugerido que o navio não tinha condições de navegabilidade. Estas dúvidas assombravam-lhe o espírito e faziam-no infeliz; pensava que talvez devesse mandar inspeccionar e reparar o navio, apesar de isto lhe sair muito caro. Antes de o navio zarpar, todavia, conseguiu ultrapassar estas reflexões melancólicas. Disse de si para si que o navio tinha feito já tantas viagens em segurança e tinha aguentado tantas tempestades que era uma perda de tempo supor que não regressaria em segurança de mais esta viagem. Confiaria na Providência, que dificilmente deixaria de proteger todos aquelas infelizes famílias que abandonavam a sua terra natal para procurar um melhor futuro noutro lado. Afastaria do seu espírito todas as suspeitas mesquinhas sobre a honestidade dos estaleiros. E deste modo adquiriu uma convicção sincera e confortável de que o seu navio era inteiramente seguro e tinha condições de navegabilidade; assistiu à sua partida de coração ligeiro e com votos benevolentes pelo sucesso dos exilados no que seria o seu novo lar; e recebeu o dinheiro do seguro quando o navio se afundou no meio do oceano sem deixar sobreviventes.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O SENTIDO DA VIDA

O sentido da vida é um tema obscuro, e no entanto central para a filosofia. Frequentemente associada à questão de os seres humanos fazerem parte de um desígnio mais vasto ou divino, a pergunta «qual é o sentido da vida?» parece pedir uma resposta religiosa. No entanto, grande parte das discussões filosóficas questiona a necessidade desta associação. A atenção dedicada à inevitabilidade da morte parece muitas vezes tornar a questão do sentido da vida problemática, mas não é óbvio que a imortalidade pudesse fazer a diferença entre o sentido e a sua ausência. O tema do absurdo é recorrente nas discussões entre quem pensa que o universo é indiferente aos nossos destinos. Embora as nossas vidas não tenham sentido, defendem que devemos viver como se tivessem. Perante este absurdo, alguns propõem o suicídio, outros a rebelião, outros ainda a ironia. Também é possível virar as costas à questão do sentido cósmico e procurar um sentido para a vida noutro lugar.